quarta-feira, 25 de junho de 2014

Evangélicos na Presidência e o Preconceito que Persiste



     No programa Roda Viva do dia 16/06/2014 a entrevistada foi a escritora e ex-presidente da Academia Brasileira de Letras ( ABL) Nélida Piñon, durante o segundo bloco da entrevista ela foi indagada sobre sua declaração a respeito de algumas posturas da candidata a vice-presidência da república pelo partido PSB na chapa com Eduardo Campos (PSB) Marina Silva, segundo Nélida Piñon algumas posturas da candidata a desagradam por serem posturas pouco contemporâneas.

     Para explicar seu ponto de vista a entrevistada argumentou: "Ela é uma mulher (Marina Silva)  que pertence a uma igreja muito respeitável mas que por exemplo não beneficia a vida da mulher,que não entende a mulher de hoje, a questão do aborto, talvez a questão até da diversidade sexual o casamento gay, homossexual,  e outros fatos mas que isso é um direito ( deles), eu não estou criticado eu apenas temeria que um certo rigor dessa natureza pudesse dificultar a trajetória da sociedade brasileira que visivelmente vem vindo sofrendo alterações".

     Continuando sua argumentação a entrevistada também disse: "Eu sei que ela tentaria não levar essas questões mas é inevitável que se forme uma força poderosa no congresso, que nós sabemos o que fazem alguns deputados, algumas bancadas, são bancadas muito severas  que pensam que o mundo deve ser feito os seu feitio, a sua medida, o mundo é pluralista, o mundo é maravilhosos quando aceita as diferenças. O que é a intolerância se não o reverso da tolerância? "

     Sobre esse trecho da entrevista, vale ressaltar algumas ponderações interessantes como: É compreensível a apreensão e temeridade por parte de alguns brasileiros, principalmente os mais letrados e intelectuais, em relação a possibilidade de um evangélico se tornar presidente do Brasil, isso se deve ao fato de a maioria das igrejas evangélicas brasileiras e a maioria dos evangélicos brasileiros não terem uma boa formação intelectual e constantemente confundirem as doutrinas cristãs com a constituição federal, demonstrando uma perigosa inclinação ao desrespeito a uma sociedade de fato muito diversa.

     Contudo, vale ressaltar que todos são inocentes até que se prove o contrário, ou seja, se um católico pode ser presidente sem confundir religião com o poder, um evangélico também pode e a nossa constituição dá a todo candidato eleito democraticamente ao governo federal, independente de sua religião, o direito de governar a nação, conforme o desejo do povo, e vale ressaltar também que o Brasil vai caminhando ao longo das décadas para se transformar em um país com maioria evangélica, logo, será quase impossível que nos próximos 50 anos não haverá pelo menos uma eleição que não resultará em um evangélico como Chefe de Estado do nosso país.

     Pode-se mesmo assim continuar temendo um país com um evangélico no poder, porém se isso ocorrer não será a primeira vez, logo, podemos buscar na nossa história uma possível resposta a indagação: Pode um evangélico ser um bom presidente? A resposta a essa pergunta está no fato de o Brasil já ter tido em um espaço de 20 anos dois presidentes evangélicos, Café Filho ( Igreja Presbiteriana ) que governou o Brasil entre 24 de agosto de 1954 e 8 de novembro de 1955 e Ernesto Geisel ( Igreja Luterana ) que governou o Brasil entre 1974 e 1979.

     Entre esses dois ex-presidentes evangélicos ha um fato importante e totalmente relevante para nosso assunto em questão, o posicionamento de ambos a respeito de um tema que era um tabu na época de seus respectivos mandatos pela influencia da Igreja Católica no país, o divórcio. Café Filho foi alvo de intensas críticas partidas da Liga Eleitoral Católica, uma organização que entre as décadas de 40 e 50, atuou na defesa da fé e tradição católica, por defender o direito ao divórcio no Brasil e foi no mandato de Ernesto Geisel que a lei do divórcio foi sancionada.

     Vale observar que mesmo apesar da fé evangélica condenar o divórcio salvo em caso de adultério e para algumas lideranças nem nesse caso, ambos os líderes não se detiveram pela influencia religiosa no país, e separaram as doutrinas protestantes das leis que regem a sociedade brasileira, é claro que em relação a esses dois indivíduos e os políticos evangélicos de hoje, pesa o fato de que a grande maioria dos políticos protestantes atuais são membros de igrejas pentecostais ou neo pentecostais e bem menos instruídos que Geisel e Café, porém não como deduzir que simplesmente por essa razão eles não terão a capacidade de respeitar a laicidade do Estado.

                                                                                                  Atos Henrique Fernandes

FONTES: http://brasilidadecult.dihitt.com/n/curiosidades/2013/11/08/o-brasil-ja-foi-governado-por-dois-presidentes-evangelicos-voce-sabia-